Escritora e religiosa, Irmã Marlise Heckler leva evangelização, cultura e esperança a um país ainda marcado pelas cicatrizes da guerra civil
Desde abril de 1999, poucos dias mais que 26 anos, a missão da modelense Marlise Heckler em Angola segue firme e inspiradora. Irmã da Congregação das Filhas de São Paulo — as conhecidas Irmãs Paulinas — Marlise nasceu, cresceu e passou a juventude no município de Modelo, onde ainda residem seus familiares amis próximos. Mas foi a vocação religiosa que a levou para além das fronteiras do Brasil, iniciando, em abril de 1999, uma jornada de fé, evangelização e solidariedade no continente africano.
Ela reside em Luanda, capital nacional, mas percorre todo território. "Conheço Angola como a palma de minha mão", afirma a religiosa, que atualmente coordena um projeto cristão no país. Marlise recorda com carinho a fundação da comunidade paulina angolana, marcada pela chegada das três cofundadoras: Irmã Maria De Carli e Irmã Catarina Boff em janeiro de 1999 e ela própria, no dia 11 de abril do mesmo ano.
Angola: um país rico em recursos, mas ainda em reconstrução
País localizado na região central da África, banhado pelo oceano Atlântico e com quase 34 milhões de habitantes. Sua capital, Luanda, é uma das cidades que mais crescem no continente, mas o contraste social ainda é gritante. O país é rico em petróleo — principal motor da economia — e possui um vasto território de clima tropical e relevo planáltico. No entanto, o desenvolvimento da nação foi fortemente impactado por uma das guerras civis mais longas da história africana.
A guerra civil angolana durou de 1975 a 2002. Esse tipo de conflito, conhecido como guerra civil, ocorre dentro de um mesmo país, entre grupos armados que disputam o poder político e ideológico. Em Angola, o embate entre o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) devastou cidades, destruiu famílias e comprometeu décadas de progresso.
Apesar do fim oficial do conflito, a paz social ainda não é uma realidade concreta em muitas regiões. Antigos combatentes vivem na miséria e a população continua a enfrentar desafios como o desemprego, o analfabetismo e o difícil acesso à saúde e educação.
A missão paulina: fé, cultura e transformação
Diante dessa realidade, a presença das Irmãs Paulinas se tornou uma resposta concreta de esperança. Em entrevista a rede de televisão nacional do país, Irmã Marlise detalhou as frentes de atuação do grupo religioso: pastoral vocacional, formação de novas religiosas, livrarias, editoriais, programas de rádio, centros culturais, redes sociais e cursos. “Nosso maior desafio é chegar a todos com a Palavra de Deus, tanto por meio da Bíblia quanto por uma formação bíblica sólida”, explica a Irmã.
Apesar das dificuldades logísticas e estruturais, as conquistas acumuladas ao longo desses 26 anos são expressivas: “A fé, a alegria e a evangelização estão no coração da nossa missão. Já temos irmãs com votos perpétuos, jovens em formação e dois centros de evangelização que alcançam todas as províncias de Angola”, pontua.
Com muito esforço, as Irmãs Paulinas percorrem o país de carro, enfrentando longas distâncias para distribuir livros, organizar encontros e visitar vocacionadas espalhadas pelo interior angolano.
Testemunho de vida e fé
A história de Irmã Marlise também está registrada em seu livro “Memórias Vivas de Fé, Alegria e Evangelização”, publicado pela Paulinas Editorial em 2023. A obra, com 355 páginas, reúne relatos emocionantes, registros históricos e testemunhos da atuação da Congregação no solo africano.
A trajetória da religiosa modelense é mais que um exemplo de missão — é a prova viva de que a fé, quando aliada à ação concreta, pode ajudar a transformar realidades mesmo nos contextos mais desafiadores.
Ao completar 26 anos de dedicação à Angola, Irmã Marlise não apenas celebra uma caminhada de fé, mas renova seu compromisso com a vida, com a esperança e com a dignidade de um povo que ainda luta por dias melhores.
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