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Clima

Após estiagem e frio, como está a 'safrinha' de milho no Brasil

A última semana de abril foi decisiva para a safrinha de milho brasileira. Além da volta das chuvas no Paraná e praticamente todo centro oeste, o frio intenso pegou todos de surpresa. Ainda é cedo para sabermos as reais perdas, que em alguns locais foram consideráveis.
De acordo com o Valor Econômico, no centro oeste do Brasil, onde se concentra a produção de milho na segunda safra, a chamada "safrinha", o entusiasmo com o clima benéfico nos últimos dois anos deu lugar ao temor com a falta de umidade na atual temporada 2015/16. As projeções de perdas variam muito a depender da região, mas as chuvas escassas e o calor excessivo em abril já levam agricultores, em casos extremos, a estimar quebras de produtividade que se aproximam dos 50%.
"Como a chuva foi boa nas últimas safras, o pessoal acreditou mais e estendeu o plantio (fora da janela ideal)". Mas este ano 'fechou a torneira' bem cedo, então a safra está toda comprometida", afirma o produtor Eduardo Cabral, de Silvânia (GO). O Estado responde por 14% da produção nacional da safrinha e é um dos mais afetados pela estiagem. "A última chuva aqui foi em 27 de março, e de apenas 07 milímetros", acrescenta o produtor.
O rendimento padrão em Silvânia é de 100 sacas por hectare de milho, mas os produtores calculam perdas de 45%, em média, estima Cabral. Agentes responsáveis pela análise de perdas - como representantes de instituições financeiras - foram à região na semana passada para avaliar os casos em que o seguro rural pode ser acionado, diz. "Mas nem todo mundo tem seguro. Eu mesmo só tenho para 55 hectares, de um total de 320 hectares". A delicada condição do milho é um choque para muitos produtores goianos, uma vez que a maioria veio de uma colheita excepcional da soja no verão e apostou no milho, que está com preço Record.
Marco Antonio dos Santos, agrometeorologista da Somar, concorda que as poucas precipitações e as altas temperaturas de abril trouxeram "consequências preocupantes" à safrinha. Além da influência do fenômeno El Niño, houve uma condição momentânea de bloqueio atmosférico, que dificultou as precipitações.
"Pegou as lavouras em florescimento e enchimento de grãos, as fases mais complicadas", disse, lembrando que nesses estágios
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a umidade é crucial para o bom nível de produtividade. Todas as regiões têm acusado perdas, mas Estados como Goiás, São Paulo e Minas Gerais estão piores, com mais de 20 dias sem chuvas, conforme o especialista.
A escassez de chuvas entre setembro e outubro de 2015 atrasou o plantio da soja e empurrou a semeadura do milho safrinha, feita na sequência. Com lavouras implantadas em período de forte risco climático, restava aos agricultores torcerem para que as chuvas se estendessem no decorrer de abril e maio - o que não é comum, mas aconteceu nos últimos dois anos. "Em abril já começa a reduzir as chuvas mesmo, é normal. Agora, já se sabe que haverá perdas, resta saber de quanto: uns falam de 5%, 10%, outros até 50%", diz Santos.
Em Mato Grosso, principal produtor de milho safrinha, com 35% da oferta total, as poucas chuvas que ocorrem têm sido localizadas, como durante a safra de soja. Em Sorriso, importante polo de cultivo no Estado, houve uma queda de 15% na produtividade da oleaginosa neste ciclo devido à estiagem.
"No caso do milho, a redução com certeza será maior. Se não chover mais, pode haver uma quebra média de 30% no município, e em alguns casos, acima de 50%", prevê Laercio Lenz, presidente do sindicato rural de Sorriso. Segundo ele, até porque o uso de tecnologia foi menor este ano, ao menos um terço das áreas no médio-norte de Mato Grosso terá "sérios problemas" de rendimento.
Os preços do milho, que estão em patamares historicamente elevados devido ao câmbio e à demanda aquecida para exportação, o que enxugou o mercado interno, ainda não refletem de maneira significativa a possibilidade de uma produção mais enxuta no Brasil.
"Já na comercialização, o produtor tirou o pé, também porque já vendeu muito", diz Ariel Encide, da Diversa Corretora de Cereais, de Rondonópolis (MT). A saca de milho para entrega em julho está sendo negociada entre R$ 23 e R$ 24 na região. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), 62% da safrinha de milho do Estado está comercializada, bem à frente dos quase 49% do mesmo período do ano passado.
Cabral, de Silvânia, lembra que ainda há no mercado volumes da primeira safra de milho 2015/16, colhida neste início de ano. "Quando chegar maio, junho, aí os compradores verão que a oferta está mais apertada". Essa condição pode deteriorar o cenário já difícil para os frigoríficos, que vêm bastante incomodados com as margens espremidas pelas cotações do milho nas alturas.
Conforme a Somar, os mapas climáticos indicam que o bloqueio atmosférico se enfraqueceu nesta semana, permitindo a entrada de frentes frias nas regiões produtoras de milho. Contudo, serão precipitações de baixa intensidade e pontuais. Em relatório do início de abril, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ainda prevê uma produção 4,7% maior em 2015/16, para 57,13 milhões de toneladas, mas consultorias e corretoras estão prevendo perdas de mais de 5 milhões de toneladas. A colheita da safrinha de milho começa no fim de maio.
 

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