| Correndo contra o tempo: a luta pela vida da pequena Emanuelly
Uma visão sobre? África do Sul!
Minha primeira experiência profissional "solitária" como negociadora de exportação a desbravar novos horizontes, foi em 2013. E não podia iniciar por uma região mais desafiadora, para uma mulher, nascida em cidade pequena, pouco habituada com grandes metrópoles, que estava pela primeira vez enfrentando o mundão sozinha - África do Sul. Lembro da sensação como se fosse hoje, desde a preparação, argumentos, pesquisas culturais sobre o país. Jamais vou esquecer esse momento, pois foi algo único na minha vida profissional e pessoal.
O ser humano tende a ter uma espécie de insegurança com o desconhecido. Meu instinto foi esse inicialmente, o medo do desconhecido é algo que sempre tentaremos controlar? As informações que recebemos pelos meios de comunicação quando pesquisamos sobre determinada região, normalmente tendem a ser negativas. Mas sempre busquei não me abalar, pois meus objetivos serão sempre os mesmos em uma viagem de negócios: focar no resultado para a empresa, e estar aberta a aprender com as culturas, situações e pensamentos distintos dos meus, quebrar paradigmas.
A África do Sul, sem você fazer muito esforço para conhece-la mais a fundo, nos remete a muitas coisas: Apartheid - segregação de raças, uma história de grande sofrimento para desenvolvimento do país graças a forma de colonização europeia. Na verdade o conceito que algumas pessoas tem do continente africano no geral, é somente a pobreza, violência, religiões extremas e intoleráveis, doenças, enfim, problemas socioeconômicos no geral. Infelizmente é uma realidade, porém felizmente, essa realidade pode ser revista, com embasamento e nos permitindo o direito de ter essa experiência: nada mais verdadeiro do que você mesmo tirar suas próprias conclusões, vendo por si mesmo. África, em sua amplitude, é uma das maiores escolas de vida que uma pessoa, que tem a oportunidade de estar lá, pode ter. Já estive em países como Angola e Moçambique (nossos conterrâneos linguísticos). Mas hoje foquemos em África do Sul. Os idiomas predominantes por lá são o Africâner e Inglês. É um país com mais de 52 milhões de habitantes, com uma miscigenação de cores, culturas e religiões (predominantes: Cristã e Islâmica). É o país mais desenvolvido do continente, e oferece experiências únicas para quem abre a mente para conhece-las.
Na primeira vez que toquei meus pés em território sul africano, conheci a imponente Joanesburgo, a cidade que centraliza uma grade parte dos negócios do país (é como a nossa São Paulo). Com 5 horas de fuso horário, um voo de 8 horas aproximadamente, me deparo com o processo usual de imigração. O país recebe muito bem os brasileiros, não precisamos de visto prévio quando vamos a negócios ou turismo, com uma saída do país em até 90 dias. O aeroporto OR Tambo é lindo, estrutura toda reformulada para a Copa de 2010.
A primeira imagem que lembro ao sair do aeroporto, foi de avistar muitas montanhas, literalmente, cortadas ao meio. O meio-ambiente sul africano, até hoje, é garimpado ao máximo devido as suas grandes riquezas minerais e dessa forma, os antigos europeus, absorveram o máximo possível desse tipo de riqueza, a natureza acabou sofrendo com isso, porém ainda assim se mantém exuberante por lá. Atualmente, sobrou somente o "pó de ouro", que ainda é buscado por mineradores.
Meu contato de lá, é um senhor e sua esposa, naturais de Joanesburgo, de famílias indianas e islâmicos. O mais interessante, é saber que nesse mesmo contato, paradigmas se quebram. Temos um conceito muito distorcido de religiões diferentes da nossa, especialmente o islamismo. A maioria dos muçulmanos, tem seu conceito de vida, que muitas vezes não estou de acordo, porém respeito muito e é bem diferente do que muitas vezes a mídia nos repassa. Eles possuem uma fé admirável e boa parte não possui em suas veias o extremismo. A maioria deles sofrem preconceito por uma pequena parcela que infelizmente distorce os limites e acabam ferindo pessoas pelo mundo. O que aprendi, é que devemos respeitar as diferenças, e não taxa-las como certo ou errado, não cabe a nós fazermos isso.
Mas a mensagem mais linda que a África do Sul pode passar, é de sua história. O sofrimento do apartheid, que nosso cliente relatou passar, divisão extrema de raças, sendo os não brancos, inferiores aos brancos. Algo surreal e inacreditável de ter acontecido, porém, felizmente, muitas personalidades lutaram para essa situação chegar ao seu fim. Sou suspeita a falar, pois o líder do país e muito conhecido no mundo pela eternidade, é um grande exemplo de liderança para minha vida: Nelson Mandela. Sua mensagem sobre igualdade de raças foi a sua luta enquanto viveu. Foi preso por anos, e saiu pronto para perdoar quem o colocou lá. Liderou muitas pessoas a seguirem também essa ideia, de amar ao próximo e perdoar as mágoas do passado, pois um povo em violência e guerras constantes, jamais prosperará. Podemos ter uma ideia muito interessante dessa batalha dele, com o filme Invictus, filme que retrata a luta pela união de povos (brancos e negros), através do rugby, no início de seu mandato com presidente. Essa imagem que Mandela deixou em seu país e no mundo, é admirada por qualquer pessoa na África do Sul, é unânime, pelo menos com as pessoas que tive contato e o que pude perceber. Levo esses ensinamentos para sempre em minha vida.
Apesar dos fantasmas do passado na expressão da população no geral, do sofrimento que tiveram, e a sombra do apartheid ainda caminhando pelas ruas, você encontrará uma África do Sul acolhedora e colorida, com belezas naturais de tirar o fôlego, e um território com muita sede de desenvolvimento. Perigos existem em qualquer lugar do mundo, cuidado devemos ter em qualquer lugar do mundo, depende de você saber lidar com isso, e estar aberto a rever sua visão sobre as coisas que não vivenciou, ou seja, quebrar preconceitos.
Termino essa pequena reflexão sobre esse lindo país, dentro de erros e acertos por lá, muitos aprendizados, com uma citação que o próprio Mandela gostava propagar, do poema Invictus, do escritor britânico William Ernest Henley, de 1875: "Não importa o quão estreito seja o portão e quão repleta de castigos seja a sentença, eu sou o dono do meu destino, eu sou o capitão da minha alma". Que sejamos capitães de nossas mentes, de nossos sentimentos para com o próximo e de nossas almas.
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