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Para o senhor Nelson Maldaner morador do Distrito de Machado em Pinhalzinho, a quarta-feira 06 de outubro era mais um dia costumeiro, como muitos que viveu durante os seus 62 anos de vida.
Ele levantou cedo, por volta das 5 horas da manhã, serviu-se do seu mate, companhia das primeiras horas, saboreou o café da manhã como habitualmente faz e depois preparou-se para a realização das tarefas que havia programado.
Apesar de aposentado, o agricultor mantem-se ativo e feliz em poder contribuir com os trabalhos desenvolvidos em sua propriedade.
Na data em questão, o senhor Nelson havia planejado passar ureia no milho, então ele abasteceu o trator logo cedo e partiu rumo aos serviços na lavoura.
Os trabalhos seguiam sem intercorrências e apesar de o tempo estar encoberto, não chovia no momento, o que também não alterou os planos. Eram por volta das 9 horas da manhã, quando o agricultor desceu do trator para verificar a regulagem do equipamento agrícola quando foi atingido pela descarga elétrica de um raio.
Tudo aconteceu em uma fração de segundos entre o senhor Nelson ouvir o estrondo e ter sido arremessado, voando cerca de três ou quatro metros pelo ar a outro local distante do trator.
Após tombar no chão, ele lembra que percebeu uma paralisia nos membros inferiores e não conseguia movimentar as pernas.
Após tentar chamar por socorro e não ser ouvido, ele arrastou-se pelo chão de terra da lavoura de milho e com a força dos membros superiores conseguiu apoiar-se no trator e subir, acessando o interior do mesmo.
Apesar de não saber exatamente como conseguiu proceder, o agricultor recorda que dirigiu o trator do local em que foi atingido pela descarga elétrica, até encontrar seu filho e pedir por ajuda.
"Eu só lembro que eu gritei, pelo amor de Deus o que está acontecendo comigo. Isso eu me lembro. Perdi o movimento das pernas, pedi socorro ninguém me ouviu, me arrastei até o trator, subi em cima, nem sei como, e vim até na roça aonde meu filho me encontrou. Eu estava consciente só havia perdido o movimento das pernas, mas em nenhum momento eu senti algum tipo de dor relacionado ao que me havia acontecido".
Ele renasceu
O filho Lucimar, lembra como encontrou o pai na lavoura e recorda os minutos de aflição até o deslocamento para os primeiros atendimentos médicos.
"Quando eu vi o pai, eu já havia descido do trator que eu estava e já fui abrir as bolsas para abastecer a máquina para render mais o serviço, aí ele me avisou que não precisava abrir porque ele havia sido atingido por uma descarga elétrica. Logo eu não sabia o que fazer. Eu pedi o que havia acontecido, e ele me disse que não sentia mais as pernas. Quando eu cheguei em casa tinha um rapaz fazendo a manutenção das máquinas daí eu pedi socorro para ele. Naquele momento enquanto o rapaz ficou ao lado do meu pai no trator, eu vim para casa e peguei o carro, esse rapaz ainda me ajudou a tirar o pai de cima do trator e colocar dentro do carro, depois disso parti rumo ao hospital. Eu até disse para ele ligar para os bombeiros, e os bombeiros estavam vindo, mas eu acabei nem esperando e fui direto para o hospital. Pelo trajeto eu fui ligando para as minhas irmãs para elas avisarem o hospital sobre o que havia acontecido, para quando chegarmos lá, eles atenderem o pai logo, porque não sabíamos o que ele tinha, e quais haviam sido as sequelas. Quando chegamos lá, eles logo atenderam ele e ficou internado. Fui pego em uma situação bem de surpresa. O pai até sempre falava quando nós tínhamos os animais à pasto, que o tempo estava para chuva que era para cuidar com os raios, só que no momento que aconteceu não estava chovendo, só deu aquele estouro".
Uma médica e três enfermeiras esperavam na porta do ambulatório a chegada do senhor Nelson no hospital de Pinhalzinho naquela quarta-feira. "Estavam me esperando com a cadeira de rodas. No hospital eu fiquei dois dias internado no soro, em observação. Tive alteração nas enzimas dos músculos, que chegaram a quase 3.000, sendo que o normal seria de até 200, mas com o passar dos dias isso também diminuiu. No último exame que fiz na segunda-feira as enzimas já estavam em 500", disse o sobrevivente.
Há quem diga que tão raro quanto ser atingido por um raio, é ganhar na loteria, e falando em sorte, há que se dizer que ela realmente sorriu para esse pinhalense que a partir de 2021, irá comemorar dois aniversários por ano, o do seu nascimento, e do seu renascimento. Não é para menos, é um fato que qualquer pessoa que saísse viva deveria se orgulhar.
"Primeiro lugar quero agradecer a minha família que me apoiou muito, se preocuparam até demais comigo e os amigos, que estavam preocupados em saber como eu estava, todo mundo se preocupa com a gente".
Se as chances de ser atingido por um raio já são pequenas, as possibilidades de uma pessoa sobreviver a isso, são de apenas 2%, de acordo com o Ministério da Saúde. O acidente pode causar graves queimaduras e danos ao coração, pulmões, sistema nervoso e outras partes do corpo, deixando várias sequelas quando não leva à morte.
Para o senhor Nelson, que já mostrou desafiar qualquer estatística, nem mesmo o histórico de doença cardíaca, foi um agravante. Da ocorrência ele não apresentou qualquer sequela grave, ou problema relacionado, fato comprovado com a bateria de exames a que foi submetido após o incidente.
O que ele quer é viver.
Por fim indagamos se haviam restado da experiência, medo de estrondos e barulhos altos, e mais uma vez ele se mostrou muito corajoso em dizer que isso não o assusta, e que ainda quer retornar ao local em que tudo aconteceu. "Eu quero ir ver na lavoura, porque eu sei mais o menos o lugar que foi, mas ainda não voltei lá. No momento não estava chovendo. Os médicos me disseram que o chinelo que eu estava usando de borracha me ajudou a sobreviver, e me disseram também que eu não deveria estar com os dois pés no chão no momento que fui atingido, porque se não, a descarga seria ainda maior".
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