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ESPECIAL

Matemática da Vida: O professor e a fórmula da superação

Uma história quase perfeita para enaltecer o Fevereiro Laranja, o mês de conscientização sobre a leucemia, um tipo de câncer que afeta a medula óssea e o sangue.

Marcantes olhos azuis que nunca pararam de brilhar, riso que não se deixou ser interrompido, joelhos calejados de orações, e uma fé infinita na medicina que lhe fez continuar. Um professor de matemática que conta detalhes de cada dia do calendário de uma batalha superadora e inspiradora. Uma história quase perfeita para enaltecer o Fevereiro Laranja, o mês de conscientização sobre a leucemia mieloide crônica, um tipo de câncer que afeta a medula óssea e o sangue.

Luiz Pozzer, hoje, acorda, dá bom dia para a esposa Natalina e logo o casal se prepara para a missão avós. As meninas recebem todo o amor do vovô e da vovó, porém com uma pitada de conhecimento, afinal, elas são netas de professores. Na escola, o professor Luiz ensinava matemática e física; em casa, ensina continhas e alfabetização para as filhas da filha. Mas, para todos nós, ele ensina a importância da fé, da medicina, da disciplina e de uma rede de apoio.

Era 2002. Ele tinha 48 anos quando seu corpo começou a apresentar anormalidades. Depois de um pouco de teima e espera, em um exame de rotina, descobriu estar com leucemia. E a batalha se iniciava para o casal e os três filhos, mas eles não estavam sós. Luiz foi agraciado com dez irmãos, fator essencial para encontrar um doador. Ele, que é o caçula, encontrou no irmão mais próximo de idade a coincidência exata para o tratamento.

O professor, que nunca tinha andado de avião, fez mais de 90 viagens para Jaú, no estado de São Paulo. A mais marcante foi a primeira, acompanhado do irmão doador, Laurindo. Luiz narra os detalhes de cada hora e dia, que pareciam não se findar — uma eternidade de detalhes. Realizado o transplante de medula com sucesso, Luiz passou os anos seguintes batalhando em busca de migalhas de imunidade para um corpo que queria viver uma vida cheia de sonhos, como a espera pelos netos.

Debilitado, em leitos hospitalares, Luiz recebia cartas enviadas pelo correio. Canetas azuis, vermelhas, verdes; letras bonitas e os tradicionais garranchos de seus alunos levavam mensagens de esperança ao querido professor. Entre as cartas, havia uma com erros de português, de difícil interpretação pela falta de formosura na caligrafia, mas que, “arteiramente”, dizia a frase: “Se o professor voltar, eu paro de caçar passarinho de bodoque”, inocentemente escrita por um aluno maroto, mas que carregava amor pelo mestre.

“Pra entender o que é um transplante de medula, eu mudei meu tipo sanguíneo. Me sinto bem, estou bem. Isso é coisa de Deus. É maravilhoso o que Deus fez de fazer com que essas pessoas estudassem e oferecessem para gente a possibilidade cura de um câncer que é raro ter o sucesso que tive”, Luiz Pozzer.

Hoje, guardado a sete chaves, um álbum se abre, iniciando com inúmeras páginas que narram a trajetória. As recordações são rabiscos de um livro que nem foi lançado ainda, escrito pela esposa Natalina. Juntam-se fotos e as cartas dos alunos e dos colegas da EEB Silvio Romero, escola em Bom Jesus do Oeste, onde Luiz viveu profissionalmente. Havia cartas de familiares, amigos e conhecidos. Uma rede de apoio que demonstra a grandeza da bondade humana e a capacidade, muitas vezes esquecida, de sermos importantes para nosso semelhante.

“Eu sempre falo que se o homem deixasse de investir tanto em guerra e armamentos e colocasse na mão da ciência, o homem viveria muito mais”

Essa história talvez nem seja de Luiz, mas da força que as pessoas à sua volta foram capazes de transmitir. Toneladas de amor, de orações, de carinho foram, inegavelmente, fundamentais para que seu coração pulsasse o novo sangue todos os dias.

A missão avós acontece em Pinhalzinho, o novo lar da família, que segue o fluxo quase natural de, nesta altura da vida, ir atrás dos filhos. Mas a verdade é que não importa o lugar: essa é uma história inspiradora sem fronteiras. E o casal agora é parte da rede de apoio de outros pacientes e de seus familiares que passam por situações semelhantes.

Numa história quase perfeita, Luiz sente a dor — indescritível dor — de acompanhar algumas despedidas apressadas daqueles que não conseguiram continuar.

Sobre a missão avós, ela é a missão mais especial, nem dá pra discutir. Mas, entre os propósitos do casal, outro especial é repassar a mensagem de superação. São visitas a amigos, conhecidos e até desconhecidos que passam pela doença.

Hoje, sem desmerecer ninguém, o paciente mais especial que recebe as mensagens de Luiz e Natalina é morador de Toledo, no Paraná. O nome dele é Laurindo. E, se você acompanhou bem essa história, sabe que ele é o irmão que doou medula a Luiz.

Laurindo recentemente também passou pelo câncer, e dá pra imaginar ele, revivendo e buscando força no exemplo do irmão amis novo. Relembrando e sentindo os ensinamentos daquelas intermináveis horas e dias que não findavam com a rapidez desejada durante o ano de 2002. E nas coincidências da vida, Laurindo também passa bem. Par finalizar, no meio desta história entrelaçada, há a mesma fé, o mesmo Deus, a mesma medicina e o mesmo objetivo: viver. E como Natalina terminou o ensaio do livro terminamos aqui: “A vida que segue!”

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