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COLONO E MOTORISTA

Mãos que plantam, mãos que levam: especial Dia do Colono e Motorista

  • Imprensa do Povo -

Família Brancher sente-se realizada com atividade agrícola. Já, para Roger Buffon, o sonho se tornou realidade

"AQUI EU ME SINTO RELIZADO", ADELSO BRANCHER

Você sabe de onde vem o alimento? Como ele chega na prateleira do supermercado? E, ainda, quem o produz para que você possa desfrutá-lo? São três perguntas simples, mas de um grande significado e, ainda mais, de um enorme valor. Vale a pena refletir, profundamente, todas as vezes que sentamos à mesa e nos alimentamos.

Dos caminhos do campo, das estradas da vida. Plantando, colhendo, surgem as incertezas e as realizações. Dificuldades encontradas em meio às milhares de profissões existentes no Brasil

afora. Algumas delas merecem nosso destaque, reconhecimento, mas nem sempre é o que acontece. Ainda há muitas ideias a serem esclarecidas.

"Temos que trabalhar em algo que deixa a gente feliz", é assim que o agricultor Adelso Brancher resume essa história que iremos contar nesta matéria especial sobre o Dia do Colono e do Motorista, celebrado na próxima terça-feira, dia 25 de julho.

A família vive há 28 anos na Linha Limeira, interior de Pinhalzinho. Adelso é natural de Concórdia e, desde adolescente, trabalhou no campo junto com seus pais. Digamos que Luciano, seu filho, trilhou os mesmos caminhos. Não dizem que filhote de peixe, peixinho é? Tá aí, um exemplo.

Hoje, a família trabalha com a produção de cereais, no cultivo de soja, milho e trigo, com seus próprios maquinários. Também trabalham com a prestação de serviços para terceiros, do plantio à colheita, incluindo o frete dos produtos. Nem sempre foi assim. Nas décadas de 70 e 80, Adelso, juntamente com sua esposa, fazia todo o serviço de forma manual. Somente em 1986, conseguiram adquirir seu primeiro trator, que, na época, facilitou o trabalho no campo.

Cinquenta anos atrás, havia praticamente só mato em Pinhalzinho. No centro, onde fica  a praça central, não tinha quase nada, apenas algumas casas de madeira", relata Adelso, sobre as dificuldades de encarar a vida naqueles tempos. "Ficamos no interior por causa dos nossos pais e também porque aprendemos a gostar disso. Hoje, cada um faz o que gosta. Aqui eu me sinto realizado", completa o agricultor de 65 anos.

Ah, se não fosse a tecnologia, não é Luciano? O mundo está em um período de plena transformação tecnológica. A cada semana, as marcas de celulares, por exemplo, lançam aparelhos novos com novas tecnologias que mexem com nossa cabeça. No campo não é diferente.

"Na atualidade, a agricultura passa por um grande processo de transformação comparado a anos anteriores, começando por uma completa análise de solo, que corrige as áreas mais fracas que precisam de nutrientes, pelo apoio das cooperativas, com acompanhamento técnico e cursos profissionalizantes, até a evolução das máquinas e a troca de sementes convencionais pelas transgênicas", disse Luciano. Este é um exemplo de que a tecnologia está também presente no campo, não apenas para facilitar o trabalho do agricultor, mas também para melhorar a qualidade do alimento, além da qualidade de vida de quem o produz.

Pai e filho trabalham juntos na roça. A mãe é dona de casa. Adelso deu a oportunidade para seu filho continuar os estudos, como fez com sua outra filha. Mas o trabalho do campo mexeu com Luciano e, hoje, ele divide todos os serviços com a família. De acordo com Adelso, no pico da safra de milho, os dois trabalham de 15 a 18 horas por dia na colheita. Como se diz, "nem tudo são flores".

São 60 hectares de terras que a família cultiva. Parte dela própria e outra parte arrendada. Em quatro safras anuais, somando o serviço terceirizado, a família colhe de 400 a 500 hectares de grãos. No maquinário da família, que é utilizado do início ao fim da colheita, há uma colheitadeira, dois tratores, um caminhão, duas plantadeiras e outros implementos.

Os planos de expansão refletem diretamente a maior dificuldade da família, que é a mão de obra. "Para isso teríamos que ter mais pessoas trabalhando com nós. Falta muita mão de obra para esse setor", explica Brancher.

A atividade de agricultor ainda sofre com alguns preconceitos e a falta de  mão de obra está cada vez maior. Devemos valorizar esta classe que produz o alimento que chega a nossas mesas. "Devemos acreditar. Na agricultura, sempre ter os pés no chão. Ter fé, investir corretamente, que, com certeza, tudo dará certo. Fazer do jeito certo, pois os resultados irão aparecer. Plantar hoje para colher lá na frente", essa é a mensagem que Luciano e Adelson deixam para quem tem a vida no campo. 

"É ALGO QUE CORRE NO SANGUE", ROGER BUFFON

Muitos levam o apelido de "Heróis da estrada". E não é por menos. A vida sobre um caminhão não é tão simples quanto parece. Na segunda parte desta história, o foco é o caminhoneiro, ou, o motorista, também lembrado na data 25 de julho, dedicada a comemorar o Dia do Colono e o Dia do Motorista. Nossa reportagem foi ouvir o pinhalense Roger Giordano Buffon.

Aos 32 anos, ele faz parte da nova geração de caminhoneiros. São sete anos de estrada. Para alguns, parece pouco, mas quando se trata da realização de um sonho, o pouco, ou muito, não importa. Como ele mesmo relatou na entrevista, "é algo que corre no sangue".

Sua trajetória na estrada começou em 2009, na Transportadora MZ, de Pinhalzinho. "Ali foi minha primeira oportunidade como motorista de caminhão", comenta. A sua primeira viagem como motorista foi de Maringá, no Paraná, para Recife, em Pernambuco. De lá, foi para Goiás e seguiu caminho para o Acre, na capital Rio Branco. Dali, voltou para Pinhalzinho. "Depois, continuei a viajar de Norte a Sul", complementa.

Engana-se quem pensa que vida de caminhoneiro é, de certa forma, fácil. Muito longe disso. Ficar longe de casa, da família, dos amigos, de tudo, ainda mais quando se é casado e tem um filho, é a maior dificuldade que Buffon encara quando está na estrada.

Segundo ele, já chegou a ficar 84 dias longe de casa. Nessa ocasião, ele embarcou sua esposa Marina e seu filho Luis Otávio em seu caminhão. "Nós tínhamos o caminhão como nossa casa", relata ele. Além dessa viagem, ele levou a família em outras oportunidades. Chegaram a viajar um ano e meio juntos.

Como toda profissão, há as partes boas e as ruins. Para o motorista, como para a maioria, o mais difícil é a saudade da família e dos amigos ao ficar longe de casa. Também há o pouco descanso que a o caminheiro faz. Roger conta que chegou a viajar três dias com apenas três horas de folga, enquanto abastecia o caminhão, fazia a carga e descarga. Segundo ele, o trecho mais difícil era voltar de Rio Branco (AC) para o Sul. Era uma viagem de aproximadamente quatro dias.

Mas também há o lado bom de ser caminhoneiro. "O que me deixa feliz nessa profissão é que você é livre; pra onde vai, conhece lugares, paisagens, faz novas amizades na estrada. Todo lugar que a gente vai conhece alguém", completa.

Os assaltos aos caminhoneiros são frequentes. Roger nunca foi assaltado, mas diz que os perigos existem em todos os lugares e em qualquer hora do dia. "Na hora de parar em algum lugar para almoçar, jantar, até nos próprios banheiros dos postos eles te assaltam. É muito complicado. Estrada é pra quem gosta mesmo", afirma.

Outras dificuldades que acompanham a vida de um caminhoneiro é a falta de espaço para descanso, o frete mal remunerado e o valor do combustível, segundo ele. "Nós não temos local para pernoite. Em São Paulo, se você não abastecer, não pode permanecer no posto. O frete do transporte está tão barato, que se tiver que pagar um estacionamento, se torna inviável. Só o valor do combustível é um absurdo no Brasil. Tem muita gente que está dormindo em beira de estrada, correndo risco de ser assaltado, dormindo na saída de posto, que é perigoso. Não tem local para onde se refugiar", disse.

Seguir na profissão com caminhão próprio não faz mais parte dos planos de Buffon. Para ele, as despesas são muito altas, com manutenção do veículo, frete barato, combustível caro, alimentação cara, estradas ruins e, claro, o risco de não voltar para casa.

Em média, o motorista, que trabalha na Starkfest, de Pinhalzinho, faz cerca de 10 mil a 14 mil quilômetros por mês. Hoje, no máximo, fica três dias fora de casa. "Essa profissão é muito ingrata. Não aconselharia meu filho a ser caminhoneiro, pelo fato de ficar longe da família. Mas, se ele quiser, eu vou apoiar ele, por que foi uma profissão que segui do meu pai", conclui.

Por tudo isso, o conselho que o pinhalense deixa para quem tem o sonho de ser caminhoneiro é o mesmo que ele recebeu de seus amigos de profissão. "Se quiser mesmo ser motorista profissional, corra atrás desse sonho, seja o mais profissionais possível e, principalmente, tem que gostar disso. Quem quiser começar, pense bem, é uma profissão boa, eu gosto disso, não é mais tão viável, mas tem que gosta (risos)", afirma.

Na próxima terça-feira, 25 de julho, o jornal Imprensa do Povo se une às comemorações do Dia do Colono e do Dia do Motorista. Duas classes que se complementam. Duas classes que movimentam o país. Do campo para o caminhão, do caminhão para as indústrias, das indústrias para as prateleiras do supermercado, do supermercado para o carinho de compras e, de lá, para a sua mesa. A todos os guerreiros do campo e da estrada, feliz Dia do Colono e feliz Dia do Motorista. 

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